quinta-feira, 31 de março de 2011

Prudência e respeito nos locais de treino

O Parkour recifense já tem um histórico problemático com as autoridades. Dois de nossos melhores, maiores e mais tradicionais picos já sofreram ou ainda sofrem proibições (UFPE e Parque da Jaqueira) e, mais recentemente, alguns guardas municipais começaram a se opor aos treinos realizados no Segundo Jardim de Boa Viagem. Por estes motivos, resolvi escrever um texto dando breve orientação aos praticantes de Parkour da nossa cidade, com o objetivo de impedir todo e qualquer mal-entendimento e julgamento errôneo de guardas, policiais, seguranças e etc.

1. Preserve o ambiente em que você treina.
Isto não precisaria nem ser citado aqui, por se tratar de uma questão moral e de valor universal. Não apenas você deve manter essa atitude de preservação no ambiente de treino, mas em todo e qualquer ambiente em que você esteja. Vandalismo é crime! É nossa obrigação manter o local intacto, até porque nós precisamos dele para treinar. Seria tremenda burrice destruir algo que você necessita para treinar e evoluir.

2. Respeite as pessoas ali presentes.
Se o local é público, todos têm direito de usufruir da rampinha, do corrimão, do banquinho e até dos muros. Lembre-se que você apesar de, na maioria das vezes, estar de acordo com as normas, está praticando algo muito incomum e alternativo. Por mais conhecido que o Parkour seja não pense que as pessoas não irão notar você pulando muros por aí. Nenhuma das estruturas em que treinamos – até agora – foram feitas pro Parkour, então se ao treinar você está atrapalhando a caminhada ou os exercícios de alguém, isso poderá lhe render problemas. Para evitar confusão, escolha treinar em obstáculos onde não haja passagem constante de pessoas. Se você estava treinando monkey com precisão em uns ferrinhos e de repente aparece uma criança com um quadricículo, simplesmente se retire e vá treinar outra coisa em outro lugar por enquanto. Seja prudente e evite situações inconvenientes.

3. Mostre argumentos coerentes às autoridades.
Caso alguém venha lhe repreender, explique calmamente que o que você pratica é uma atividade séria, que recebe apoio da Prefeitura de Recife na realização de encontros e outros eventos de Parkour. Que Recife, inclusive, já foi sede de um encontro nordestino.

Diga que vc preza pela integridade do ambiente tanto quanto ele, que você PRECISA de tudo aquilo inteiro para poder seguir com seus treinos. Não é seu objetivo vandalizar, nem atrapalhar e faltar respeito com as pessoas presentes naquele local. Peça desculpas caso vc tenha incomodado alguém e diga que irá prestar mais atenção da próxima vez e que agora irá treinar em outro lugar enquanto houver pessoas usando a área em que vc estava treinando.

Obs. 1: Em lugares privados (lojas, supermercados, bancos...) não há o que discutir. Se mandarem você ir embora, obedeça imediatamente!

Obs. 2: Se a reclamação for a respeito da sujeira que fazemos nos muros, infelizmente também não há o que discutir. Abaixe a cabeça e saia de fininho, pq a realidade é que todos nós sujamos os muros com os nossos tênis.

Obs. 3: Tá aí um bom motivo para se treinar descalço, né não? hahaha :D

Mantendo o respeito, sendo consciente, se pondo no lugar dos outros e tendo sempre muita prudência ao treinar, muitas situações desconfortáveis poderão ser evitadas.

Bons treinos à todos! ;D

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Pensamento curto: O que você fez hoje?

E aí? Que progresso você fez hoje? Você está chegando próximo de sua meta? Você, por acaso, tem alguma meta definida?

Não desperdice um dia de treino!!
Saia da sua zona de conforto, se esforce um pouco mais e trate de fazer algum progresso.¹

"Ainda não consigo fazer esse salto, mas vou treinar pesado: Repetir 50 vezes pela manhã e depois à noite e em um mês eu terei conseguido. Isso é auto-conhecimento, estabelecer seus objetivos e alcançá-los. Porque se você não tiver objetivos, você será como uma folha no vento que não sabe onde vai parar." - David Belle

"As pessoas precisam aprender a 'caminhar' e não apenas fazer Parkour e se divertirem com isso. Brincar também é bom porque te dá a energia para 'caminhar', mas as pessoas precisam realmente 'caminhar' e notar sua evolução! Para isso é necessário estabelecer pequenas metas para se atingir toda semana." - Stephane Vigroux

¹ Estou ciente que existe também a evolução mental, tão importante quanto a física, e que pode ser atingida mesmo sem treinar Parkour. Porém, como disse logo acima, o texto trata de não desperdiçar o momento em que foi estabelecido para se treinar Parkour. Outra coisa importante de se salientar é que TODO treino resulta em progresso. Se você sai de casa apenas pra fazer os movimentos mais triviais que você já "masterizou", você estará aperfeiçoando sua técnica ainda mais, visto que no Parkour a evolução NUNCA pára. Mas nessa parte do texto eu pretendi incentivar o leitor a fazer um treino mais puxado que o normal, sair do feijão com arroz e dar uma levantada maior na sua barra de evolução.

Bons treinos a todos.

terça-feira, 29 de março de 2011

Além da zona de conforto

Texto escrito por Thomas Couetdic.

O encontro foi marcado para as 11h, então ninguém ficou surpreso quando os irmãos Vigroux apareceram meia-hora atrasados. Eles estavam se reunindo com vários outros membros da Parkour Generations para uma sessão de treino apenas com os instrutores do grupo. Uma coisa que eu gosto quando treino com Stephane e Johann é o caráter desafiante que eles sempre trazem para o treino. Eu gosto que me incentivem a dar mais de mim, gosto de estar sob pressão e superar dificuldades um pouco mais trabalhosas - que fazem a diferença entre um bom treino e um ótimo treino.
Acostumado a treinar sozinho, com frequência eu sou obrigado a criar esse estado mental por conta própria. Mas não é a mesma coisa que ter um bom parceiro de treino consigo.
À medida em que íamos calmamente progredindo no treino, eu percebi que Johann estava em cima de um murinho fino, ensaiando na sua mente um salto de três passadas do mesmo murinho em que ele estava para outro BEM longe. A distância de um muro para o outro, assim como a curta distância para das as passadas, tornava o salto "cabuloso" e, principalmente, assutador.
Então quando Johann foi tentar e mal conseguiu, senti uma mistura de surpresa, provocação e raiva: Surpreso porque ninguém estava esperando aquilo naquele momento (Johann falou logo após sua primeira tentativa: "Esse é o tipo de salto que geralmente eu deixaria pra fazer mais tarde, só que eu não estava afim de fazer isso hoje, então eu decidi fazê-lo logo de uma vez."); Provocado porque era um salto muito legal e eu sabia que teria que tentar também; E com raiva porque eu teria que fazer algo que eu odeio e amo ao mesmo tempo, que é ir além da minha zona de conforto.
Muitos traceurs, até aqueles bastante talentosos, não fazem ideia do que isso significa - pois eles nunca experimentaram. A maioria deles mantém uma evolução estável, uniforme e confortável. Mas quando aparece algum desafio que levanta um dúvida em suas mentes que os incomodam, eles seguem em frente e deixam o desafio para depois, até que a dúvida (desconfiança, preguiça...) não exista mais e eles possam encarar o mesmo desafio de maneira bem mais confortável.
No entanto, desde os meus primeiros treinos de Parkour eu vim sendo exposto a uma abordagem diferente em relação a esses tipos de desafios. Teimosia, determinação, obsessão... Chame do que quiser! A habilidade de encarar um desafio cabuloso feito esse e decidir que hoje ele será superado é, na minha opinião, um estado mental essencial para a prática do Parkour. Já que, como eu havia percebido, isso é uma estrada que te leva diretamente ao controle total da mente.
Há muito tempo que eu não havia sido desafiado dessa maneira, então foi muito bom ouvir Stephane falar pra Johann logo antes de ele tentar também o salto: "OK! Você elevou a barra para um patamar mais alto hoje."
Enquanto eu ia dando uma olhada no obstáculo, eu fiquei um pouco irritado com toda a conversação e o movimento das pessoas indo pra lá e pra cá. Dan notou e sabiamente me lembrou que isso também fazia parte do desafio...
Eu sempre tive dificuldade com precisões correndo e eu realmente não conseguia me visualizar realizando o salto, parecia longe demais para mim. Então eu fiz o que eu sempre faço nessas situações: Eu comecei a fazer deduções, ou seja, criar razões para eu acreditar que poderia realizar aquele salto com sucesso.
Analisando todos os pontos, um por um, eu consegui chegar nas conclusões mais comuns como: "Minha precisão é boa o suficiente, eu já fiz precisões correndo antes em muros finos e se o resto da galera fez, eu posso fazer também."
Eu substituí cada dúvida que eu tinha por uma dedução lógica até eu ter elementos suficiente para ter certeza que eu conseguia fazer o salto. A partir daquele momento, eu só precisava fazer o esforço final, o esforço decisivo... Suspirei algumas vezes dando breves "assopros", focado em cada passo, puxei minhas pernas o máximo que pude até chegar com sucesso no outro muro.
Como de costume, eu fiz o salto mais duas vezes para ter certeza que eu o tinha feito (Só uma vez é o mesmo que nada!).
Fiquei feliz por ter sido motivado a sair novamente da minha zona de conforto - o único momento que eu sinto que estou realmente progredindo.

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